
A Sunset Collectors acaba de lançar “Para Sempre Juntos”, seu mais novo single — e talvez o mais marcante da carreira até aqui. A música é uma homenagem à conexão entre pais e filhos autistas, trazendo à tona emoções intensas, superação, carinho e o desafio diário de viver em uma sociedade que ainda impõe muitos obstáculos à inclusão.
Formado durante a pandemia, o quinteto paulista transforma vivências reais em canções que misturam peso, melodia e mensagem. Nesta entrevista exclusiva ao Myemoheart, a banda compartilha os bastidores da composição, fala sobre o poder do hardcore na promoção da empatia e como a amizade de anos fortaleceu o vínculo criativo entre os integrantes. Leia a entrevista completa:
“Para Sempre Juntos” carrega uma mensagem emocionalmente intensa. Como vocês equilibraram essa carga afetiva com a energia visceral do hardcore melódico?
“A intensidade emocional da letra caminha lado a lado com a força do hardcore melódico. A ideia foi canalizar sentimentos profundos, como amor incondicional, indignação com o julgamento alheio e a superação, através da potência rítmica e melódica que o estilo permite. O hardcore tem essa capacidade de ser visceral e, ao mesmo tempo, profundamente humano. Assim, conseguimos equilibrar emoção e energia, sem suavizar a mensagem e mantendo a autenticidade do som.”
A letra aborda a convivência com o autismo de forma sensível e respeitosa. Qual foi o processo de escuta e vivência que inspirou essa composição?
“Essa composição nasceu de experiências reais, de convívio direto com pessoas que possuem o transtorno do espectro autista (TEA). O processo envolveu escuta ativa, muita pesquisa sobre o tema, empatia e reflexão. Mais do que entender o autismo do ponto de vista clínico, foi essencial compreender os obstáculos do dia a dia, os silêncios cheios de significado, os desafios sociais e os momentos de afeto puro. A letra retrata, com muito carinho e sentimento, o olhar de um Pai ou de uma Mãe que enxerga em seu filho Autista, não apenas alguém especial, mas o seu verdadeiro herói. É uma inversão emocionante da narrativa tradicional, onde quem aprende é o adulto, guiado pela pureza, essência e força do seu filho. É dessa entrega e descoberta que nasceu a inspiração para a canção.”
Vocês descrevem a música como um “manifesto de amor e presença”. Qual é o papel da arte, especialmente do hardcore, na promoção de empatia e inclusão?
“A arte tem o poder de transformar percepção em consciência. E o hardcore, com sua natureza crua e autêntica, rompe barreiras e fala diretamente ao coração de quem escuta. Ao abordar temas como o autismo com verdade e respeito, a música deixa de ser só entretenimento e passa a ser uma ferramenta de transformação. Ela sensibiliza, gera identificação e promove espaços de inclusão onde o diferente não é excluído, mas celebrado.”
A formação da banda durante a pandemia parece ter moldado um vínculo forte entre vocês. Essa conexão se reflete diretamente na sonoridade e na construção das letras?
“Com a mais absoluta certeza, somado ao fato de morarmos no mesmo bairro há décadas. Sempre estivemos juntos, frequentando bares e shows, mas nunca focamos realmente em montar uma banda autoral e levar isso como algo mais sério, sempre foram reuniões para tocarmos alguns covers. A pandemia deixou todos nós em casa e pensativos sobre: “a vida pode acabar amanhã, o que falta fazer aqui para valer a pena?”. Como todos nós pensamos nisso, nos conectamos ainda mais para fazermos um som juntos e passarmos mensagens positivas e reflexivas, ou seja, refletindo diretamente na construção da nossa sonoridade e das letras.”
O repertório da banda também aborda temas como alienação, resistência e identidade. Como vocês veem a relação entre discurso político e música em um cenário atual de polarizações?
Enxergamos como uma forma de nos posicionarmos em conjunto por meio da música, pois temos um viés político bem parecido, alguns mais extremos, outros mais brandos, mas quase uma unidade que sempre aponta para o mesmo sentido ou lado. Na atual conjuntura política em que vivemos, não há como ser isento e não se posicionar contra o fascismo, a tirania, a proliferação de desinformação, a alienação, a militarização da política, o negacionismo científico, a intolerância à diversidade, o discurso de ódio, a corrupção e outros temas. Ter uma banda de hardcore no Brasil e não se manifestar contra tudo isso é, honestamente, melhor nem sair de casa”
Com influências que vão de Bad Religion a Dead Fish, como vocês definem a identidade sonora da Sunset Collectors em meio a tantas referências?
“Estamos ainda definindo nossa identidade sonora, pois somos uma banda nova, isso exige muita dedicação e tempo. Buscamos essa definição em influências que vão de Bad Religion a Dead Fish, dentro dos estilos musicais que escolhemos como plataforma para proliferar mensagens boas e positivas, como o hardcore melódico e também o punk rock. Mas nossas influências são amplas e passam por gêneros musicais de rua e sinceros, como o punk, o metal, o reggae e o rap, além dos mais sofisticados, como o jazz e o blues. Cada integrante da banda é um universo musical diferente e traz elementos e vivências distintas para construirmos nossa identidade sonora, nosso principal objetivo hoje.”
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